terça-feira, julho 24, 2012

A QUERCUS e os EUCALYPTUS

Chamaram-me a atenção para este comunicado da QUERCUS com o título "Incêndios florestais", publicado hoje.
Depois de uma semana complicada em que ardeu bastante na Madeira  e muito no Caldeirão, neste último caso sobretudo esteval e sobro, a QUERCUS descobriu a pólvora, descobriu que o problema é "falta de ordenamento do território, escassos apoios ao sector florestal e expansão descontrolada do eucalipto".
Demorei a perceber, mas finalmente vi a luz: o jornal Público começou na sexta feira a vender videos dos Monty Python e a QUERCUS não é organização para se deixar abater  sem luta.
Vai daí avançou directamente para a concorrência, enfrentando os Monty Python no seu campo.
Ardem trinta mil hectares de área sem eucalipto? O problema é o eucalipto, como é óbvio, se a expansão do eucalipto fosse controlada, como defende a QUERCUS, provavelmente o Caldeirão estaria eucaliptado e não arderia.
Ardem 25 mil hectares de sobreiros e estevas? O problema é a falta de ordenamento, como é óbvio, porque se houvesse ordenamento, como defende a QUERCUS, o que lá estaria era estevas e sobreiros e não sobreiros e estevas que já prenunciavam este desfecho.
Ardem 25 mil hectares de sobreiro e esteva? O problema é a falta de apoios à floresta, como é óbvio, se houvesse apoios à floresta convenientes, como defende a QUERCUS, estaria tudo devidamente florestado com pinheiros e ter-se-ia evitado o problema.
E se dúvidas houvesse, a QUERCUS acaba com elas de forma exemplar: "Como é do conhecimento público, o Governo está a preparar nova legislação que pretende viabilizar a expansão desmedida da monocultura do eucalipto – uma árvore mais suscetível à propagação dos incêndios - e facilitar os abates de sobreiros e outras espécies de maior valor ecológico".
É exactamente isto sem tirar nem pôr: o problema destes incêndios florestais, em áreas de sobreiro e esteva, é uma futura lei sobre arborizações, que não altera a lei dos sobreiros e que vai permitir a expansão desmedida do eucalipto, que aliás já era o problema inicial detectado pela QUERCUS para explicar porque ardem 25 mil hectares em área de sobreiro e esteva, sem aptidão para o eucalipto.
Um comunicado superlativo e esclarecedor.
henrique pereira dos santos
Declaração de interesses: tenho um pequeno trabalho  com uma das empresas de celulose e rompi  a minha ligação de anos com a QUERCUS, desarriscando-me de sócio quando um Presidente da QUERCUS e a propriamente dita organização resolveram chamar-me mentiroso e outras coisas que tais, por eu ter contestado um parecer da QUERCUS que contestava o trabalho  dos meus colegas do ICNB, cujos fundamentos técnicos a QUERCUS sempre se recusou a ir verificar no terreno comigo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá, estive fora e nao me apercebi destes incêndios. Sem querer dar demasiado trabalho, pode mostrar-me onde foi buscar a informação sobre o coberto das areas ardidas?
Confesso que também acho que o eucaliptal e o pinhal sao mais susceptiveis a fogos que os montados excepto claro se como diz estiverem cobertos de estevas. Nao existe nenhum tipo de ironia ou de vontade de atear aqui mais um fogo, é mera curiosidade para também poder amadurecer a minha opiniao.Obrigado.

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro Anónimo,
Pode ver aqui, nos relatórios da AFN http://www.afn.min-agricultura.pt/portal/dudf/relatorios
Mas convém ter em atenção um aspecto: as áreas de pinheiro e eucalipto ardidas são as maiores (dentro dos povoamentos) porque esses são os povoamentos mais distribuídos e os que coincidem com as áreas onde há mais fogos.
O montado, se bem gerido, arde menos, da mesma forma que um eucaliptal bem gerido também arde menos: o determinante é o combustível que está no povoamento, não é a essência dominante.
henrique pereira dos santos